Jornal de Notícias - Domingo, 3 de Fevereiro de 2008

 

Teresa Cardoso

 

Carlos Ribeiro diz que os brasões ajudam a conhecer o país

 

 

O armário em pinho feito por encomenda com várias prateleiras e portas envidraçadas, que lhe custou 100 euros, sobressai na sala principal da casa de Carlos Ribeiro, em Colo de Pito, Castro Daire. Lá dentro, arrumados pelos 18 distritos do Continente e Ilhas e alinhados por ordem alfabética, repousam 279 mini-guiões dos brasões de outras tantas cidades e vilas-sede de municípios portugueses. Faltam 26 (ver ficha) para chegar aos 308. Poucos, mas os suficientes para pôr a cabeça em água do ex-militar da GNR. "Nem a pagar consigo que as câmaras me ajudem a completar a colecção", desabafa.


Amparo de uma irmã mais velha, com quem vive, Carlos Ribeiro, 51 anos, solteiro e sem filhos, começou a interessar-se pelos mini-guiões dos brasões municipais no início da década de 90. Sem razão objectiva, foi guardando um, depois outro e mais outro até tornar-se coleccionador apaixonado pelas pequenas bandeiras municipais.


"O facto de ser uma colecção fechada, pesou muito na atracção que sinto. Chego aos 308 municípios portugueses e acabo. Ponto final. Não se fala mais nisso. Se em lugar disto tivesse optado por isqueiros, calendários ou canetas, andava toda a vida a juntar e nunca chegava ao fim", justifica.


Outra razão possível para a paixão pela heráldica, faz recuar Carlos Ribeiro ao tempo em que "cantava" de trás para a frente os nomes das serras, dos rios e das estradas nacionais na pequena escola de Colo de Pito onde fez a quarta classe.


"Adorava geografia. E, de certa forma, os mini-guiões dos brasões acrescentam saber a quem se debruça sobre o seu conteúdo o escudo de cada vila ou cidade contém símbolos que bastariam para caracterizar a região a que dizem respeito. Em muitos casos, nem era preciso o nome da terra", afirma convicto o homem que sabe ainda de cor os códigos postais de todo o país, desde Lisboa (1000), onde começam, até à Horta - Açores (9900), onde acabam.


À espera da encomenda


Guardador de ovelhas até à idade adulta, novos horizontes se abriram a Carlos Ribeiro quando em 1978 entrou para a GNR. Correu 11 postos, de norte a sul, antes de se reformar em 2006 no concelho natal Castro Daire.


Naquela altura, já com dezenas de mini-guiões em seu poder, intensificou os pedidos de novos exemplares junto das autarquias. Quase sempre a solicitar o envio por encomenda a pagar no destino. "Quando o carteiro chega, fico alerta a ver se traz alguma coisa para mim", diz com os olhos brilhantes. Se as respostas tardam ou não chegam entra em desespero


"É o que está a acontecer agora. Faltam-me 26 exemplares para fechar a colecção, e não vejo uma luz ao fundo do túnel. Já escrevi às câmaras que tenho em falta, e poucas são as que respondem. É verdade que algumas até oferecem e agradecem, mas outras dizem que não têm ou não podem vender", lamenta. É por estas e por outras, que Carlos Ribeiro promete não desistir.

 

"Logo que possa vou bater-lhes à porta", promete.

 

Teresa Cardoso 

Jornal de Notícias

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As câmaras que faltam na colecção

Cidades e vilas do Minho até às IIhas



Não é extensa a lista de brasões municipais que ainda não figuram na colecção de Carlos Ribeiro. Os das cidades com cinco torres e os das vilas com quatro. São eles Albufeira, Alcoutim, Amadora, Amares, Angra do Heroísmo, Avis, Calheta (Madeira), Caminha, Cartaxo, Condeixa-a-Nova, Crato, Elvas, Évora, Guarda, Lagoa (Açores), Nazaré, Ourique, Rio Maior, Santa Cruz (Madeira), Santa Cruz da Graciosa (Açores), Sousel, Torres Vedras, Viana do Alentejo, Vila de Rei, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa.

Guião por 700 euros devido a uma vírgula

Carlos Ribeiro colecciona guiões e também episódios para os conseguir. É o caso de Celorico de Basto, onde uma simples vírgula quase o fez pagar 700 euros por um brasão que custava sete. "Nem queria acreditar quando vi o documento de cobrança a exigir aquela quantia. Andei de um lado para o outro, e cheguei à conclusão que a culpa era de uma vírgula posta no sítio errado. Deixei devolver e fui de propósito à Câmara comprar outro. É uma entre muitas histórias que guardo comigo".


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